Depois dos 20 e poucos.

Ela era nova, tipo uns 16 anos. Tinha acabado de mudar de bairro, de escola e teve que aguentar todas as bagagens que essas mudanças trazem. Não pensava em namorar, ficava com um aqui, outro dali a meses, e as vezes aquele de novo lá de trás.
Tinha amigas fiéis, fez novos amigos e outros melhores amigos. Se inscreveu em um cursinho daqueles para vestibular parcelado e parou com um mês, fez aula de pintura e ficou sem paciência no segundo quadro de Tarsila do Amaral, ou foi no décimo pano de prato cheio de imagens fofinhas e florzinhas?
Acordou num dia normal, pensou no melhor amigo e por alguma força desconhecida queria ele pra si. Só pra si. "Poxa, ele era legal", pensou. Ele escutava suas neuras sobre outros carinhas, mandava coraçõezinhos no MSN todos os dias, e a esperava depois da aula na praçinha pra ela não ficar sozinha até o ônibus chegar. Mas justamente aquele dia ele não entrou no MSN, era final de semana e celular naquela época era só depois dos 18 anos segundo sua mãe.
Por fim, um dia eles se encontraram e namoraram. Ele não era o mais bonito da turma, não era o mais rico e muito menor o mais cobiçado. Mas ele se importava, sabe. Até que eles duraram muito. Tempo demais para dois adolescentes se conhecerem pra vida toda.
Mesmo assim ela não desistiu do amor. Decepção tem dessas coisas, ou acaba com a sua vida, ou te empurra pra frente com tapinhas de leve no rosto toda manhã.
Ela tentou com outro, esse era tipo filme, mas de drama. Foi tudo do dia pra noite, tudo intenso, tudo uma confusão sem fim. Mesmo assim também foi amor, e durou anos.
Hoje com seus 20 e poucos e em um relacionamento relativamente estável, ela anda com preguiça das coisas. Preguiça de conhecer gente, preguiça de brigar por coisas tolas, preguiça de sofrer. Acho que isso é coisa dos 20 e poucos. Dizem que quando eles chegam é assim mesmo, vem com essa bagagem também. Ou será que é só ela querendo e tentando ser feliz finalmente? Pode ser, sei lá. Quando os 20 e poucos anos passarem ela vai saber.