Ei cara.

Ei cara, porque você tá falando assim, como se eu fosse uma estranha? Ei, vem cá, sente meu cheiro e vê se ele te lembra ainda alguma coisa, repare nas minhas unhas, eu ainda como os cantinhos como sempre fazia. Lembra daquela manchinha no meu pescoço do lado direito e das várias ao lado do umbigo? Dá cá uma olhadinha e veja que eu ainda sou a mesma.
Cê deve tá estranhando meu cabelo curto, meu sorriso sem aparelhos ou meus quilos a mais, mas do resto ainda sou eu.
Eu ainda preciso de alguém pra cobrir minha orelha pra eu dormir, ainda sofro do mal de segunda-feira e morro de carência aos domingos a noite vendo Pânico sozinha, viu, eu ainda to aqui.
Eu continuo vestindo pijamas que insistem em não caber mais em mim, mas prefiro sua camisa velha larguinha pra eu ficar dormindo sentindo seu cheiro e sonhando com lembranças. São tantas lembranças que as vezes durmo uma semana com a blusa porque não consigo lembrar de tudo em uma única noite.
Eu ainda olho a lua antes de dormir e continuo esquecendo de desligar a tv. Tá se lembrando de mim agora?
Ainda durmo rodeada de almofadas e bichos de pelúcia pra ver se a cama fica menor, daquele jeito que só quando você dormia aqui preenchia esse vazio.Guardei todas as lembranças (ou a maioria) naquela caixinha rosa.
Continuo sentando na janela às vezes a noite quando a rua tá vazia, só pra ter a sensação de tranquilidade, as vezes vou pro terraço também e fico olhando as luzes da cidade e me afogando nos pensamentos.
Não curei o medo de ondas e continuo amando tartarugas.Ainda oro por você toda noite antes de dormir e fico imaginando onde será que você está já que meu telefone não toca.


Eu ainda sou a mesma, mesmo não sendo do mesmo jeito, mas ainda sou eu.